Murmúrios

Ao longo dos últimos anos desenvolvi um discurso no qual tenho vindo a fundamentar grande parte dos meus projetos de carácter artístico. Tendo como base o conceito filosófico de tábua rasa, que nos diz que todos nascemos enquanto folhas em branco, acredito que a partir do momento em que respiramos pela primeira vez inicia-se um longo e exaustivo processo de gravação e engramação da vida em nós. Nestas tábuas imaginárias são retidos todos os momentos que nos influenciaram, o modo como pensamos, como agimos; estas conservam em si todas as memórias que nos fazem pertencer a uma sociedade. Marcas que nos influenciaram no passado continuam a condicionar o futuro e a agir sobre o nosso presente. Num tom mais próximo do meu imaginário, projetei esta crença para um carrinho de linhas: este, ao longo de toda a nossa existência será envolvido por uma linha que conservará convicções, ideias, ideais, pensamentos … desejos. A linha é para mim portadora de sentimentos, memórias, crenças e em cada nó, a cada espessura e textura desta, fica contida a percepção e a consciência de toda uma vida exposta à passagem do tempo.

Neste projeto procuro transformar a Ermida num objecto a ser envolvido por esta linha (simulada através de desenho), percorrendo-a de um modo obsessivo, catalogando e empilhando assombramentos e temores, multiplicando imagens de terror e medo, tecendo memórias, entrelaçando pressentimentos, transformando o tempo passado em espaço. Este emaranhado de linhas consistirá na tridimensionalização de toda uma contaminação de memórias que circularam o edifício: confissões, temores, receios, desabafos, momentos de introspeção, traições, uniões …

Madalena éme

Fachadas / Paredes

Murmúrios

  • Madalena éme
  • 18 Mai 2013 - 10 Jun 2013
  • Intervenção urbana

  

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