Fuso 2017

Testemunhas de um Tempo

Desde sua criação, em 1983, o Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil vem estabelecendo profícuas parcerias e diálogos com instituições de inúmeros países. Se, no primeiro momento, nossos parceiros naturais vinham de países latino-americanos – então também realizando seus primeiros festivais de vídeo –, atualmente eles estão no mundo todo.

Reflexo importante desse momento inicial, a presença de obras e artistas latino-americanos é uma das marcas distintivas do Acervo Histórico Videobrasil. Além disso, atualmente esse acervo é um dos principais guardiães da memória videográfica na América Latina, uma vez que – vítimas dos anos – outras instituições pioneiras desapareceram, levando consigo suas coleções e acervos.

Com obras de Andrés Denegri, Ayrson Heráclito, Cao Guimarães e Enrique Ramírez, o recorte do Acervo Histórico apresentado na atual edição do FUSO busca, em um só gesto, lançar luz sobre essa trajetória e indicar os percursos que o Festival projeta para seu futuro. Não é, contudo, só a proximidade geográfica que estabelece uma identidade entre estas obras. Existe em todas, de maneiras distintas, uma fala sobre a ausência, sobre a perda e sobre a finitude da vida – “o solene sentimento de morte, que floresce no caule da existência mais gloriosa” de que nos fala Carlos Drummond de Andrade.

Contra um fundo político, religioso ou pessoal, essas vozes aproximam-se de nós como animais domésticos, em sua devoção familiar e quotidiana. Aqui, o mar, a morte, o jardim e a cidade estrangeira surgem como instâncias de um lamento por um afeto ou um lugar perdido. Frente a ele, restamos nós, solitárias testemunhas de um tempo que se vai e deixa, sem testamento, sua herança.

Solange Farkas

  

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