Natureza, templo e abismo. Sagrado, corpo e imagem

VICENTE é uma filosofia da cidade e do lugar-Lisboa a partir de uma mitografia artística e experimental. Um ensaiar da paisagem, na paisagem, por essa paisagem. Lisboa como mensagem profunda. Um meio urbano re ectindo-se como totalidade cultural a partir do contexto físico quase miniaturial de uma travessa em Belém, onde exercitamos – na rua – as virtualidades contemporâneas de um mito de renovação.
Desde 2011 que esta missão busca novos sentidos para o complexo narrativo associado a São Vicente, ao mesmo tempo que explora dimensões da arte e do pensamento actuais. A edição deste ano do VICENTE – com o subtítulo tríplice Sagrado, Corpo e Imagem – fecha o díptico aberto o ano passado com a temática Natureza, Tempo e Abismo. Ambas fecham por sua vez o primeiro quinquénio de um projecto cultural dedicado ao ‘espaço público mítico’ que se desenha e imagina em torno do imaginário mais ou menos explícito do santo padroeiro da cidade de Lisboa.
Intervenções urbanas, instalações na capela, as visitas guiadas, as performances, os passeios, as edições, têm de nido um território de temas que se por um lado são profundamente Lisboa, por outro contém hipóteses de trabalho com enorme potencialidade criativa, também ao nível internacional. Universal. O nosso VICENTE é um contributo para tornar o mito mais próximo da imaginação quotidiana e a arte e o pensamento mais íntimos de um público transversal.
Por detrás do Projecto está a ideia de que tal como a cidade que se preza não pode abdicar de um Espaço Público apropriável por todos, também um mito que se ame colectivamente – ou que se tenha amado como este se amou! – não pode deixar de renovar-se contínua – e radicalmente – no presente de cada geração e de cada individuo, em cada tempo. Até porque Vicente, sua aventura, seus atributos e porque não dizê-lo, seus milagres, andavam demasiado esquecidos…
Esta quinta edição do VICENTE é o momento final de uma primeira aproximação estratégica e relativamente compreensiva ao mito de São Vicente na sua relação com a actualidade da cidade contemporânea; estabelecemos os princípios de um conjunto de instrumentos temáticos – tópicos – que partem para provocações várias – do placebranding que só a arte urbana proporciona, a toda a sorte de liberdades intelectuais exorbitantes face à academia.
Este ano, este jogo de vectores entrecruza-se com particular complexidade, numa geometria de paralelismos: a sobreposição entre natureza e sagrado, o corpo como templo e simultaneamente abismo. Certas imagens do sagrado, altamente codi cadas representações do corpo e em particular do corpo dos mártires, adquirem uma vida nova através das nano-provocações da atitude artística.
A abertura deste espaço em Lisboa à retórica plástica de VICENTE continua a ser o incauto exercício da batida do desassossego (assim nos baptizou José Sarmento de Matos, um dos maiores amantes de Lisboa, no anúncio da primeira edição). Sem ela Belém, a cidade e o País seriam sítios menos espessos e certamente mais ‘chatos’.

Vicente,Vicente 2015

Sagrado, corpo e imagem

  • Alessandro Lupi (Travessa) Gabriele Seifert (Ermida), Rochus Aust (Performance inaugural)
  • 22 Ago 2015 - 25 Out 2015

  

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