FUSO 2019
Pedro Barateiro
– A Viagem Invertida (Espelho) –
2019, 15’
instalação de dois canais de vídeo HD, cor, som
cortesia do artista e da Galeria Filomena Soares, Lisboa
A Viagem Invertida (Espelho) é uma obra que reflecte sobre a relação de intimidade com os dispositivos móveis e a tecnologia. A obra parte de uma investigação sobre a extracção de lítio em Portugal. O uso deste metal alcalino é parte de muitas indústrias, com grande presença na produção de baterias para carros, smartphones e outros dispositivos. É também um elemento químico utilizado no tratamento de algumas perturbações psicológicas como a bipolaridade. A Viagem Invertida (Espelho) é um comentário à condição contemporânea dos indivíduos e à sua falta de presença na sociedade.
Significa pedra, do grego lithos. Em 1790 o estadista e poeta luso-brasilerio brasileiro José Bonifácio encontrou o mineral que, ao ser atirado em uma fogueira, mudava de cor.
A maior mina de lítio da Europa está situada na Guarda (Portugal), e tem reservas para 30 anos de produção. Tem mais 5 depósitos em sua posse. Está localizada numa das zonas mais remotas do país. A paisagem é cinzenta, rochosa e verde.
O lítio tem tido uma procura crescente por ser utilizado na fabricação de baterias para telemóveis e outros dispositivos electrónico, mas também em baterias de automóveis eléctricos. A utilização lítio na medicina moderna começou em 1949. O lítio pode contribuir para a prevenção de episódios de mania e de depressão, impedindo a sua recorrência, corrigindo desequilíbrios e, portanto, estabilizar o humor.
O metal do telemóvel que está em contacto com as nossas mãos altera as extremidades nervosas dos nossos dedos, acalma e estabiliza a nossa relação com o mundo das imagens e dos sons. A energia que nos permite aceder aos dados dos nossos feeds de informação. O metal próximo das nossas orelhas, onde se mistura com as redes de WIFI que entram pelos nossos sonhos adentro.
O objecto em queda.
O corpo partido.
A acelerada decomposição de qualquer matéria viva, o seu fim.
A viagem invertida começa com um círculo desenhado na testa.
Um dedo que toca de forma leve mas consistente.
A viagem invertida é o espaço da não aceitação de um conjunto de regras que não servem o propósito colectivo e individual, fingindo devolver a imagem construída que desejamos.
Não somos cúmplices, somos refugiados.
Fora da terra.
Fora da linguagem.
Fora do texto.
Não há diálogo, a não ser com nós mesmos.