ZONA – Uma Coreografia da Psique

Uma sala de sonhos onde as palavras não surgem e o vazio se torna avassalador. Nela a presença do corpo como método de trabalho. É ele que define o espaço interior e exterior e é ele que representa o limite e a tangência com a realidade, numa poesia gestual que se esfuma na penumbra.
No espaço temporal de um dia um conjunto de imagens começam a surgir. O ambiente, fechado e íntimo, lentamente se contextualiza numa sala de pânico que deixa antever pulsões, instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes. A história circunscrita a um espaço representa a sala mental do inconsciente; perturba visualmente o espetador pela força expressiva de imagens simultaneamente incómodas, delicadas e poéticas.
Nuno Moreira é persona presente e omnipresente neste processo de construção de imagens reveladoras do inconsciente. Simultaneamente voyeur o artista encarna no objeto do seu trabalho, a modelo, sonhos, pesadelos, angústias e ansiedades que atribuem à sequência uma fisicalidade extrema. Na base das imagens todo um conceito imagético próximo da cinematografia de Tarkovsky, Bela Tarr ou Bergman. ZONA encerra um conjunto de medos e sonhos provenientes de um universo interior, difícil de passar a imagens. São sim ideias-chave de um mundo interior pejado de ausência e vazio surgidas numa altura em que o autor lia sobre Jung e sobre a representação de arquétipos. “A ideia do abismo fascina-me em todos os aspetos, há quase uma necessidade completa de perceber o que está para além do véu”, revela o autor. Das leituras de Jung surgiram desenhos e palavras, que deram posteriormente à luz imagens. Segundo Jung, “os sonhos são produtos imparciais e espontâneos da psique inconsciente, mostram-nos a verdade natural sem adornos”. “Para Jung, os símbolos oníricos, como aliás qualquer outro símbolo são tentativas de individualizar a anima, a persona, a sombra e outros arquétipos, e de unificá-los num todo harmonioso equilibrado” (1).
Fotografado em Tóquio e finalizado em Lisboa, ZONA representa uma continuidade de State of Mind, o anterior trabalho de Nuno Moreira. Neste último fotografias de pessoas, em momentos de pensamento, resultantes de vários anos de viagem. De um arquivo de pessoas isoladas em diferentes situações surge um padrão: personagens absortas da realidade. No fundo ambos retratam paisagens interiores representadas de forma estilisticamente diferente.

(1)Introdução à Psicologia Jungiana, Calvin S. Hall, Vernon J. Nordby

Elsa Garcia

ZONA – Uma Coreografia da Psique

  • Nuno Moreira
  • 5 Março 2016 - 27 Março 2016
  • Instalação

  

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