Notre Dame

Quando regressamos à memória das performances, às imagens dos ensaios ou às que foram registadas pelo artista Julião Sarmento, compreendemos que estes desenhos fazem parte de uma ocupação diária, quase como notas de um caderno, sobre um trabalho que vai encontrando estações sucessivas enquanto projecto e uma correspondente performatividade que se antecipa à acção.

As imagens registadas por Julião Sarmento constituem um elemento importante para regressar à Ermida enquanto espaço de catarse e lugar do trabalho do corpo, performativo é certo, mas exultante no referente que o precede. Notre Dame é, nestas fotografias, uma relação do olhar que persegue momentos, e movimentos, nem sempre precisos, que se sucedem no decorrer do tempo que toda a acção conquistou ao espectador. O que resta são fragmentos que não se detêm na sequência narrativa e que procuram captar essa transitoriedade, por vezes desfocada, outras vezes devolvendo a arquitectura da ermida aos corpos pétreos que se deslaçam na pele que não resiste à pulsão da voz e à tensão física do corpo. Mas também nos reencontram com a postura profana dos corpos ainda vestidos de rua, de vida urbana, prestes a traçarem a sua primeira linha no imaginário sacro de Notre Dame, essa memória que o projecto de Alice Joana Gonçalves transformou sem perder de vista o seu sentido simbólico e a sua potência iniciática. Esta potência regressa à ermida no seu último acto, um momento único performativo que coincide com a apresentação das fotografias de Julião Sarmento que aí ficam em exposição. Imagens e actos convivem por breves instantes, e concorrem sob um manto imaginário que religa e reencontra a ponte entre a poética e a pulsão do rumor sibilino que foi anunciação e movimento encarnado na interpretação de Notre Dame.

João Silvério

Notre Dame

  • Alice Joana Gonçalves, Julião Sarmento
  • 8 Novembro 2014 - 21 Dezembro 2014
  • Fotografia, performance
  • Curadoria:João Silvério

  

Projecto Travessa da Ermida © 2020. Todos os direitos reservados