Participei há alguns anos num recital de música com a pianista Claire Chevallier. Ela tocava “O Filho das Estrelas”, de Eric Satie. No palco, eu desenhava a música que Claire tocava no seu Erard; os desenhos eram projectados num grande ecrã que servia de cenário.

A peça de música “O Filho das Estrelas” é constituída por três temas; 1° A Vocação, 2° A Iniciação e 3º O encantamento.

Após esta série de concertos, fascinado pela música de Satie, continuei, no meu atelier, a trabalhar no tema “O Filho das Estrelas”.

Realizei numerosas pinturas, bem como um grande tríptico associando os três temas.

No ano passado, realizei na Fábrica Viúva Lamego, uma obra mural de grandes dimensões para uma empresa belga, a SD Work. A obra ocupa quatro pisos sobre muros de 3m x 27m. Para este trabalho, cortei azulejos de 20/20 cm com espessuras de 9/6/4 cm. Em seguida, fiz grandes composições coloridas. Era como se desenhasse com azulejos. Poderíamos falar de um desenho colorido ou de um baixo-relevo.

Para a minha intervenção na Ermida, pensei nos três grandes muros do fundo usando a mesma técnica recentemente elaborada na Fábrica Viúva Lamego.

Creio que se trata de uma forma totalmente nova de trabalhar com a tradição dos azulejos.

No muro da esquerda irei colocar a composição “A Vocação”, no central “A Iniciação” e no da direita “O Encantamento”.

O todo irá constituir “O Filho das Estrelas”.

O tríptico, naturalmente, faz referência às numerosas pinturas ou frescos da história da arte Cristã existentes em todos os lugares sagrados, mosteiros, catedrais, igrejas ou pequenas capelas.

Benoit Van Innis

Fiquei impressionada pela beleza dos azulejos antigos que se encontram na Ermida,

Quero realizar três esculturas inspiradas pelos elementos, os motivos e os detalhes que descubro nos azulejos da Ermida; de certo modo, traduzo os azulejos bidimensionais em esculturas tridimensionais;

As minhas esculturas estarão em diálogo com o trabalho de Benoit Van Innis;

Optámos por chamar Norte-Sul à nossa exposição. A ideia é muito simples e clara.

Benoit Van Innis é do Norte, da Bélgica.

Trabalha há mais de 14 anos com azulejos para obras públicas ou privadas em colaboração com arquitectos belgas ou holandeses de renome. A sua abordagem é diferente daquela a que estamos habituados a ver em Portugal.

Eu própria exploro sobretudo as possibilidades da cerâmica e da porcelana, por vezes trabalho com azulejos (metro…) e ao mesmo tempo realizo esculturas e objectos mais utilitários, como vasos, pratos…

A minha abordagem é mais meridional, as minhas origens estão aqui, em Portugal, mas também vou buscar inspiração a outras culturas, quer tenham ou não ligações à história do meu país.

Estou a pensar, por exemplo, nas culturas do Oriente e nas minhas influências provenientes dos anos que passei no estrangeiro.

Não devemos fechar-nos numa cultura, seja ela do Norte ou do Sul.

Actualmente, vivo em Bruxelas e apercebo-me que o confronto destas duas culturas é muito interessante.

Como tão bem o diz o meu amigo Benoit : “O belo casa bem com o belo”.

Bela Silva

Norte-sul

  • Bela Silva e Bennoit van Innis
  • 24 Março 2012 - 5 Maio 2012
  • Escultura/Instalação
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