Capela – Altar – Janela – uma paisagem com as cores do mar

Arte e religião sempre estiveram ligadas e continuam a estar, mesmo que de formas antagónicas. A arte e a religião como tema, tem sido usada como forma de decoração, enaltecimento e propaganda. Mais tarde, serviu também para contradizer este sistema de interdependência (artistas e patronos) e declarar a sua independência de sujeito e mentalidade. Hoje em dia, estas duas correntes de patronato religioso e de independência em relação ao mesmo, misturam-se. Os artistas continuam a inspirar-se nos grandes mestres com temas religiosos e a produzir obras de arte para organizações religiosas. Ao mesmo tempo, curiosamente muitos destes mesmos artistas, são teoricamente fortes opositores a estas organizações e aos seus pontos de vista.

Este trabalho proposto, é um passo nessa direção, é uma reflecção sobre este duplo sentido, ou seja: utilização de motivos religiosos enquanto material de inspiração histórica e estética mas no entanto deixando de parte a sua mensagem teórico-religiosa. Este trabalho não é feito para uma organização religiosa ou com qualquer intenção religiosa, mas para um espaço, que até não há muito tempo era um local de culto – uma capela com um altar.

Tomo aqui como ponto de partida o debate entre o religioso e o não-religioso – da arte com ou sem um propósito prático específico.

O trabalho proposto – Janela – está posicionado no lugar onde um altar estaria. O altar que desde os primórdios da história é o local onde são realizados sacrifícios e rituais. É pois uma janela para a espiritualidade e para os deuses. Neste caso, um lugar de adoração, de contemplação e de comunicação, sobretudo indireta. A arte tem também em si esta capacidade de ser adorada e de inculcar um sentido de contemplação, um estado semi-meditativo que nos faz pensar e racionalizar, mas também sentir, estar em sintonia com os nossos pensamentos e crenças, acreditando ou discordando com o que o que a obra visa afirmar ou a ideia que representa. Mais importante ainda é o seu papel como uma janela de comunicação, uma vez que promove um debate sobre o que é abordado pela obra e o que ela representa ou não. Num nível mais místico será uma comunicação com o eu interior e a introspecção de uma forma racional ou numa forma mais espiritual, se escolher-mos sermos crentes.

Uma janela para a forma e a cor. Poderia ser de terra ou pedra, como os primeiros altares o eram ou em muitos outros materiais de que a escultura se apropriou ao longo do tempo, neste caso será em PVC e tinta de poliurtano. Aqui as cores são do mar, apenas algumas delas, porque nele a variedade está sempre presente. Daí Capela – Altar – Janela – uma paisagem com as cores do mar.

Martim Brion

 

Capela – Altar – Janela – uma paisagem com as cores do mar

  • Martim Brion
  • 4 Março 2019 - 14 Abril 2019
  • Instalação; pvc e tinta de poliuretano

  

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