Luz Cega

Desde logo “LUZ CEGA” interpela-nos sobre se é a luz que nos cega ou se cegos ficamos pela luz, o que, podendo ser uma redundância, não o é pelo sentido subjacente a este mais recente trabalho de Cláudio Garrudo. A sua diferença está no sujeito da acção e na intenção que a suporta. Será, então, a luz, a fé, a crença que nos torna cegos, ou, em outra perspectiva, somos nós mesmos que nos deixamos cegar pela azafáma e imediatismo deste nosso tempo.

Esta é a dialética que Cláudio Garrudo sugere a partir destas imagens, um projecto “site specific”, pensado no significado e na religiosidade desta ermida, lugar de culto, outrora religioso. O culto, esse, poder-se-á dizer assume agora outras acepções, como por exemplo o dar lugar à reflexão sobre o mundo contemporâneo e as circunstâncias que nos rodeiam.

A voracidade com que tudo acontece em muito se aproxima dos 8.3 minutos que a luz demora a percorrer a distância do Sol à Terra, e ainda assim ensejamos “ver a luz”, e, amiúde, insistimos cegamente, porque sem pensar, nessa procura, não dando tempo, não sabendo esperar pelo tempo, esse que se pode ganhar, ao invés de se perder.

O véu diáfano que tem percorrido a obra de Cláudio Garrudo surge, aqui, através da luminosidade seja no conteúdo desta exposição, seja no seu aspecto formal, ao recorrer ao clássico e vagaroso processo de revelação por raios de luz ultra-violeta. Espaço e tempo juntam-se, portanto, nesta “LUZ CEGA”, o espaço para a reflexão que simboliza os templos, religiosos ou artísticos, e o tempo que deveríamos cada vez mais reclamar para dizer que não queremos ficar nem ser cegos no nosso pensamento e lucidez.

José Manuel dos Santos

 

Luz Cega

  • Cláudio Garrudo
  • 21 Janeiro 2018 - 21 Fevereiro 2018
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